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Cidades

Quebrando barreiras

  • Carlos Rodrigues
  • 30 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

Estar fora dos padrões e ter alguma deficiência não impede ninguém de ser feliz. Conheça a história de pessoas que dedicam suas vidas à mostrar isso, através da inclusão

O Brasil conta hoje com 45.6 milhões de pessoas com deficiência – um número equivalente ao de toda a população da Espanha. Na prática, significa dizer que 23,9% dos brasileiros possuem algum tipo de deficiência, auditiva, visual, intelectual ou física. Os números são do último censo do IBGE.


Quando se trata do tema inclusão, a primeira imagem que passa pela cabeça das pessoas é à adaptação de espaços com rampas de acesso, elevadores, piso tátil.... Sim, realmente devemos exigir o cumprimento da lei nº 10.098 da acessibilidade, mas, já parou para pensar que existem poucas políticas públicas voltadas para esse tipo de público?


Felizmente, existem pessoas que se dedicam à inclusão de maneira voluntária e efetiva. Ser inclusivo significa, principalmente, oferecer benefícios e oportunidades iguais de acesso a bens de serviço. Vamos conhecer a história de José Valente e Ângela Ferreira, que criaram novas maneiras de facilitar a vida de quem tem alguma deficiência.


COMPROMISSO COM A CAUSA


José Valente, 52 anos, é cabeleireiro e percebeu que o mercado de beleza não atendia e nem se preocupava com a acessibilidade de pessoas com deficiência. Criou então, em 2010, uma van adaptada para atender deficientes físicos: a Acessibilidade Cabeleireiro Delivery. Sua intenção era principalmente oferecer mais conforto àqueles cuja locomoção é dificultada. No começo, ele ia até a casa dos clientes oferecer serviços de corte, pintura, hidratação, e tudo o que é feito em um salão convencional.


Valente acreditava que sua ideia para ajudar os cadeirantes fosse incentivar outros empresários a fazer o mesmo, porém não foi o que aconteceu. A van ficou famosa, começaram a copiar sua ideia, mas somente para fins comerciais. “Em três anos, ajudei várias pessoas a criar um carro igual ao meu, mas eles estavam mais preocupados com o lucro do que com a acessibilidade em si”, reclama.


Decepcionado, acabou se desfazendo da van, mas não do compromisso com a inclusão. Hoje, ele vende produtos de beleza que possuem a “marca da acessibilidade”. Significa que, ao adquiri-los, o comprador contribui com um projeto social – ainda sem nome – que doará cadeiras de rodas para deficientes. Atualmente, 5% do lucro das vendas é destinado para esse fim.


MODA INCLUSIVA



Quem também se dedica à inclusão é a pedagoga Ângela Ferreira, 52 anos. Desde 2010, ela coordena o Fashion Inclusivo, um desfile desenvolvido especialmente para portadores de deficiência, cujo o principal objetivo é usar a moda como elemento de inclusão das mais variadas deficiências.


A idealizadora do projeto afirma: “a proposta é despertar interesse sobre questões que envolvam estilo, elegância e moda. É importante criar a oportunidade de novos negócios pautados na responsabilidade social, por intermédio de produtos acessíveis a todos”.

O projeto beneficia a dona de casa Izabel Rodrigues, 45 anos, e sua filha Iasmim Rodrigues, 8 anos, portadora de síndrome de down. A pequena, de longos cabelos loiros e sorriso fácil, desfila no evento há cinco anos e sua mãe afirma: “Ela é uma menina que leva alegria a todos da família. Sei que muito desse comportamento deve-se às atividades do Fashion Inclusivo. Iasmin me fez crescer como mulher e aprender que temos força para superar qualquer obstáculo”.

O projeto de Ângela conquista novos adeptos todos os dias. Quando a equipe do Folha do Cerrado visitou a sede do programa, encontrou a diarista Maria Elande Brito, trazendo o filho Daniel Brito, 20 anos, pela primeira vez. O jovem tem lesão cerebral desde menino. “Meu filho é muito inteligente”, conta a mãe. “Participar do evento, faz com que ele se socialize, conheça outras pessoas”.

Apesar de todas as dificuldades do quadro, Brito concluiu o ensino médio, o curso de espanhol e se formou em secretariado. Já praticou judô, jiu-jitsu e agora está estudando para o ENEM. O rapaz moreno e tímido, cuja fala é um pouco comprometida, quer cursar psicologia. Maria o acompanha em todas as atividades, administrando as necessidades do filho ao trabalho como diarista.


DE BEM COM A VIDA


A pedagoga Telva Lima, de 47 anos, é paraplégica e luta há 22 pela causa. Satisfeita consigo mesma, ela não se abala nem com a cadeira de rodas e nem sobrepeso. “Tenho consciência que estou fora do padrão, mas sei do meu valor, da minha beleza natural. E isso é o que deve importar”, Diz ela orgulhosa.

Telva é casada há 11 anos e conheceu o marido pela internet. Reage às suas dificuldades com entusiasmo e apoio do companheiro. A última que aprontou foi fazer um álbum sensual com o seu parceiro. Fala da sexualidade com tranquilidade sem inibições. “Eu tenho um olhar penetrante, e quis mostrar para o povo que os deficientes pensam e fazem sexo como qualquer um. Eu e meu marido temos uma relação sexual intensa. Já ouvi muita gente dizer que a gente não transa, mas isso é bobagem! O meu marido é louco por mim!”


Depoimentos como o de Telva mostram que a deficiência, física ou mental, não impede ninguém de ser feliz e se realizar. Infelizmente, a acessibilidade e inclusão no Brasil estão caminhando em passos lentos. Por isso, iniciativas como as de José Valente e Ângela Ferreira fazem muita diferença. E você? O que tem feito para colaborar com a inclusão?


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